Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Quinto capítulo

A safra dos dez milhões

Em 70, Fidel lançou a campanha da safra dos dez milhões de toneladas de açúcar. Foi um fracasso.
“É mais fácil, mil vezes mais fácil aniquilar o mercenário de Playa Girón numas horas, do que resolver bem o problema duma fábrica. É mais fácil ganhar 20 guerras do que ganhar a batalha do desenvolvimento.” Harnecker, Marta.
Em conseqüência vieram mudança na estrutura do Estado e do Partido.
“Depois de assinalar os erros que se cometeram ao identificar o Partido com a administração do Estado e ao permitir o debilitamento das organizações de massas, assinala que, apoiando-se nelas, no movimento operário, nos Comitês de Defesa da Revolução, nas organizações juvenis, estudantes e camponeses têm as bases para os passos seguintes que consistem na participação muito mais direta das massas nas decisões e nas soluções dos problemas e uma participação multifacetada em toda a parte; no aspecto terrritorial nos problemas que têm que ver diretamente com eles.” Harnecker, Marta.
Aqui cabe analisar o que causou o debilitamento das organizações de massas.
“Em 18 de novembro de 1959, o novo congresso nacional dos trabalhadores teve lugar no antigo palácio da Confederação dos Trabalhadores Cubanos (CTC). Por sufrágio direto, secreto e livre – nas primeiras e últimas eleições livres no governo de Fidel Castro – foram escolhidos 3.200 delegados entre todos os sindicatos e grupos sindicais do campo. Três mil eram do Movimento 26 de Julho e duzentos dos comunistas e demais grupos.” Franqui, Carlos.
“Os trabalhadores amavam Fidel; o que ele pedisse, eles davam. Mas nunca entregaram seus sindicatos independentes. Quando Che, Raúl e o próprio Fidel os pressionaram com seu apelo pela unidade, eles responderam com um sonoro sim a favor da revolução e do socialismo humanístico. Mas votaram não aos comunistas. O Congresso e os sindicatos rejeitaram completamente as influências externas. Os duzentos delegados comunistas se abstiveram em todas as votações, enquanto os três mil que votaram escolheram uma CTC que era puro Movimento 26 de Julho.” Franqui, Carlos.
Mais tarde esta derrota seria superada, através da atuação do Ministro do Trabalho, comunista e do esvaziamento gradual dos sindicatos.
Os estudantes haviam ocupado um lugar de destaque na luta contra Batista e Pedro Luis Boitel era um dos líderes estudantis do Movimento 26 de Julho cuja importância na universidade era crescente.
“A universidade era um ponto-chave por ser o nascedouro e o lar da revolução. Ela apoiava as mudanças sociais e políticas radicais que a revolução acarretara, mas exigia a autonomia e eleições diretas que tradicionalmente eram seus direitos. Neste ponto entravam em conflito com Fidel, que não queria eleições e nem autonomia para ninguém, especialmente para os estudantes. Estes (como os sindicatos) engoliram a afirmação de Castro em Montevidéu (“Uma revolução latino-americana nova, humanista. Liberdade com pão, pão sem terror”) como um peixe engole a isca. Mas dezenove não são vinte, e agora Fidel exigia “unidade” e obediência dos estudantes, dos sindicatos e do povo. Nem a universidade nem os sindicatos poderiam permanecer independentes, e tampouco o permaneceram. Boitel renunciou e obteve uma vitória moral. Então começou uma campanha de oposição. Antes do fim de 1960, ele estava na prisão. Foi o único líder do Movimento 26 de Julho que morreu na greve de fome ocorrida nas prisões de Fidel em 1974.” Franqui, Carlos – grifos nossos.
A identificação do Partido com o Estado era a própria essência do modelo soviético. Segundo Harnecker, “O Partido é o máximo organismo dirigente em Cuba e como tal dirige e controla os organismos estatais e de massas. Mas dirigir não significa substituir.” Esta é a chave da questão: devido a escassez de quadros e às complexidades das tarefas, o trabalho partidário e a gestão administrativa acabaram se confundindo. Agora estava se colocando as coisas em seu lugar: o partido decide, o administrador executa.
O livro de Marta Harnecker entrevistou trabalhadores da província de Matanzas onde se lançou o piloto do chamado Poder Popular. A cifra de controle foi outra instituição soviética importada. A JUCEPLAN, a réplica cubana da Gosplan, determinava qual deveria ser a produção de cada fábrica, dentro de um planejamento nacional. Destacamos este depoimento colhido numa fábrica de papel:
“Assim vai se desenvolvendo a discussão do plano e então se estabelece um compromisso: a massa de trabalhadores faz um compromisso do que tem que produzir, mas já não é isso de “Pátria o Muerte!” mas sim analisando todos os detalhes, sabendo o que vai poder realizar, e com melhores condições, porque vão passando os anos e nós vamos tendo maiores recursos, não é verdade? ... Mas fazer as coisas “Pátria o Muerte!” como dizem os companheiros implicava de fato fazer avançar as coisas apenas com o movimento dos trabalhadores de vanguarda, aquele grupo de trabalhadores que tinha demonstrado condições exemplares frente ao trabalho e à Revolução. A grande massa ficava para trás, não se integrava nas tarefas.” Grifos nossos.
Outra maneira encontrada de “fazer as massas participarem” foi a introdução do pagamento por norma. Estabelece-se um salário mínimo e paga-se à parte a produção que exceder a norma. Nos países capitalistas, a obtenção desta mais-valia extra chama-se super-exploração.

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