Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Quarto capítulo

Putas, pederastas e proxenetas, os 3 Pês cubanos

A sovietização de que fala Franqui se estendeu a toda vida cubana. Foi uma importação mecânica de modelos que desprezou as especificidades históricas, culturais e políticas de Cuba.
Criaram-se os pioneiros, a juventude comunista e a UNEAC (União dos Escritores e Artistas Cubanos), réplica da União dos Escritores da União Soviética. Junto com ela veio a tentativa de impor o modelo do realismo socialista e a perseguição aos intelectuais, que teve o seu período negro no qüinqüênio 71 – 75.
Para os homossexuais e prostitutas criou-se uma gigantesca operação policial, em que os presos eram vestidos com um traje listrado com um grande P nas costas. Segundo Franqui:.
“Fui ao palácio expressar minha raiva a Fidel, Raul e os outros. Lá estavam eles com Ramiro Valdés, Isidoro Malmierca, Barba-Ruiva (Manuel Piñeyro) e José Abrahantes. Valdés é um neurótico torpe, impopular, taciturno e corrupto, como quase todos os moralistas. Estava se gabando do sucesso de sua operação enquanto os outros riam. Ele disse que todas as forças socialistas de segurança que havia consultado (soviéticas, chinesas, vietnamitas, tchecas e alemãs) relataram o que tinham em estoque para esse tipo de gente: execução, vinte anos de trabalhos forçados e campos de reeducação. Ele até trouxera uma máquina tcheca de detecção homossexual. Isto arrancou gargalhadas dos irmãos Castro.
...
Fidel e Dorticós interviram nesse instante, dizendo que as prostitutas seriam enviadas a campos de reeducação e transformadas em novas mulheres, com novos empregos. Os proxenetas seriam processados com todo o rigor da lei. Os homossexuais não seriam processados, mas não teriam permissão de exercer influência na arte, na cultura ou na educação. Afirmaram que a operação foi importante como medida contra-revolucionária.” Franqui, Carlos.
Na organização do trabalho, importou-se o udarniki. Udárit, em russo, significa golpear. Udarniki eram os trabalhadores de vanguarda, que estavam à frente da produção. Na verdade, acabavam constituindo uma casta que recebia privilégios e melhores salários. No caso cubano isto significava ingressos para espetáculos e preferência na compra de eletrodomésticos, entre outras vantagens materiais. O prestígio político também abria várias portas.
Finalmente, em 3 de outubro de 1965 cria-se o Partido Comunista de Cuba (PCC) e constitui-se o seu Comitê Central. Em seu site oficial, o Partido ignora seu passado anterior e sua colaboração com o governo de Batista e com outros ditadores que o antecederam.
“El antecedente histórico más inmediato de la formación del Partido Comunista de Cuba se encuentra en el amplio proceso unificador que tuvo lugar en 1961 con la formación de las Organizaciones Revolucionarias Integradas (ORI), que constituyó el primer paso hacia la creación del instrumento político unitario de la Revolución; formadas por el Movimiento Revolucionario 26 de Julio, liderado por Fidel Castro, fundador del Ejército Rebelde e iniciador de la última etapa de la lucha revolucionaria; el Partido Socialista Popular (PSP) (Comunista) cuyo secretario general era Blas Roca y el Directorio Revolucionario 13 de Marzo, dirigido por el comandante Faure Chomón.” Site oficial do PCC.
É engraçada esta omissão, porque o próprio Fidel discursou no 50º aniversário do Primeiro Partido Comunista de Cuba, em 22 de agosto de 1975. Harnecker reproduz trechos deste discurso:
“E Fidel termina dizendo: “Recordaremos sempre com emoção o dia em que, algum tempo depois do triunfo da Revolução e em seguida a um processo de unificação das forças revolucionárias, Blas Roca depositou nas nossas mãos as bandeiras gloriosas do Primeiro Partido Comunista de Cuba.”
A bolinha foi “sorteada”.
Mais interessante ainda é a data do Primeiro Congresso do Partido Comunista Cubano: maio de 1975! De 65 a 75, democraticamente, o Comitê Central decidiu sobre os rumos da revolução, sem a necessidade de ouvir as suas bases.
A opção pelo modelo soviético levou Cuba a se filiar, em 72, ao COMECON, o bloco econômico fundado em 1949, que abrangia a União Soviética e os países do leste europeu. Antes disso, através de tratados comerciais com os russos, ela vendia seu açúcar a preços acima do mercado e comprava petróleo a preços subsidiados. A lógica do mercado entre os países socialistas era que cada um deveria investir onde suas vantagens comparativas fossem maiores. Complementando suas economias, todos sairiam lucrando. A conseqüência para Cuba foi reforçar a monocultura e travar a sua industrialização, criando uma dependência político e econômica.

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