Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Prolegômenos para uma estética da Flatulência

Os ignobéis 

O  Ignobel é um contraponto muito bem humorado à sisudez do Nobel. Existe desde 91 e premia as mesmas áreas, só que com critérios um pouco diferentes. Ele distingue as pesquisas, digamos assim, mais inusitadas. Um dos meus preferidos é  o Ignobel de Física concedido ao cientista que demonstrou, através de simulações, que o pão sempre cai do lado da manteiga. Na realidade, ao ser derrubado, ele tem o tempo exato para executar uma meia rotação em torno de seu centro de gravidade. Murphy está cientificamente correto.
Este ano os físicos se superaram. Uma pesquisa, encomendada pela marinha sueca, comprovou que os arenques se  comunicam através de flatulências. Inicialmente chegou-se a pensar que os ruídos fossem provenientes de submarinos russos. Podemos dizer que a guerra nuclear esteve por um pum!
O flato, além destes aspectos duplamente escatológicos, se presta a outras elucubrações, notadamente no terreno estético. Sem a mínima pretensão de esgotar o tema, examinarei  algumas  metáforas muito batidas, à luz desta recente descoberta. 
O coração é um músculo. Quando vemos um no açougue, não nos passa cabeça que ele poderia ser a sede das paixões e das emoções. Sabemos que é o cérebro que aloja estes sentimentos. E que se o coração bate, dispara ou até mesmo pára, é porque houve um comando lá de cima.
Mas a literatura demora muito a incorporar as conquistas da ciência. E o coração continua padecendo na mão de bons e maus escritores. Ora apunhalado, ora dilacerado, persiste como a sede dos sentimentos, já que o cérebro, seu rival no reino das metáforas, é sempre frio e calculista.  
A língua, que também fica exposta no balcão de frios, é sinônimo de idioma, em várias outras línguas. E a boca, que exterioriza os nossos pensamentos? Ela, que é a porta voz do cérebro, parece ter vida própria, capaz de transformar qualquer discussão em bate-boca. O uso metafórico destas duas é tão generalizado, que passa até despercebido. Já a outra extremidade sonora do aparelho digestivo é amplamente discriminada na literatura. A não ser nas páginas do Marques de Sade, ela nunca é ouvida.
Imaginemos uma estética arenque. Teríamos o intestino no lugar do coração e o esfíncter no lugar da boca. Imaginemos ainda que os abnegados cientistas não tivessem concluído a sua pesquisa e que alguma mente brilhante tivesse “decifrado” os sinais que, supostamente, os submarinos russos estavam emitindo. Por fim, visualizemos um casal de arenques apaixonados, flatulando juras de amor, enquanto os fantásticos doutores da CIA convencem o presidente Bush que a terceira guerra começou. Tudo isto ao som de Fagner.
 Os ignobéis – Prolegômenos para uma Estética da Flatulência

O  Ignobel é um contraponto muito bem humorado à sisudez do Nobel. Existe desde 91 e premia as mesmas áreas, só que com critérios um pouco diferentes. Ele distingue as pesquisas, digamos assim, mais inusitadas. Um dos meus preferidos é  o Ignobel de Física concedido ao cientista que demonstrou, através de simulações, que o pão sempre cai do lado da manteiga. Na realidade, ao ser derrubado, ele tem o tempo exato para executar uma meia rotação em torno de seu centro de gravidade. Murphy está cientificamente correto.
Este ano os físicos se superaram. Uma pesquisa, encomendada pela marinha sueca, comprovou que os arenques se  comunicam através de flatulências. Inicialmente chegou-se a pensar que os ruídos fossem provenientes de submarinos russos. Podemos dizer que a guerra nuclear esteve por um pum!
O flato, além destes aspectos duplamente escatológicos, se presta a outras elucubrações, notadamente no terreno estético. Sem a mínima pretensão de esgotar o tema, examinarei  algumas  metáforas muito batidas, à luz desta recente descoberta. 
O coração é um músculo. Quando vemos um no açougue, não nos passa cabeça que ele poderia ser a sede das paixões e das emoções. Sabemos que é o cérebro que aloja estes sentimentos. E que se o coração bate, dispara ou até mesmo pára, é porque houve um comando lá de cima.
Mas a literatura demora muito a incorporar as conquistas da ciência. E o coração continua padecendo na mão de bons e maus escritores. Ora apunhalado, ora dilacerado, persiste como a sede dos sentimentos, já que o cérebro, seu rival no reino das metáforas, é sempre frio e calculista.  
A língua, que também fica exposta no balcão de frios, é sinônimo de idioma, em várias outras línguas. E a boca, que exterioriza os nossos pensamentos? Ela, que é a porta voz do cérebro, parece ter vida própria, capaz de transformar qualquer discussão em bate-boca. O uso metafórico destas duas é tão generalizado, que passa até despercebido. Já a outra extremidade sonora do aparelho digestivo é amplamente discriminada na literatura. A não ser nas páginas do Marques de Sade, ela nunca é ouvida.
Imaginemos uma estética arenque. Teríamos o intestino no lugar do coração e o esfíncter no lugar da boca. Imaginemos ainda que os abnegados cientistas não tivessem concluído a sua pesquisa e que alguma mente brilhante tivesse “decifrado” os sinais que, supostamente, os submarinos russos estavam emitindo. Por fim, visualizemos um casal de arenques apaixonados, flatulando juras de amor, enquanto os fantásticos doutores da CIA convencem o presidente Bush que a terceira guerra começou. Tudo isto ao som de Fagner.
 
Tenho um intestino
Dividido entre o grosso e o fino
Tenho um intestino, bem melhor se não tivera,
Este intestino,
Não consegue se conter ao ouvir teu flato
Pobre intestino,
Sempre escravo da gordura,

Quisera ver o Bush,
Quando em meu líquido oceano flatular,
Fazendo borbulhas de amor no seu sonar,
Passar as noites em claro, dentro da CIA
O Bush, vai enfeitar de satélites a ionosfera
Fazer piruetas de horror à luz da lua
Saciar esta loucura, dentro da CIA

Flatula intestino,
Que esta alma necessita de ilusão,
Sonha intestino, não te enchas de amargura
Este intestino,
Não consegue se conter, ao ouvir o teu flato
Pobre intestino, sempre escravo da gordura,

Uma noite, para unir-nos, até o fim,
Bomba a bomba, míssil a míssil
E morrer, para sempre ...dentro de ti

P.S. O Aurélio parece ter se antecipado a estética arenque. Ele registra flato como: 1. Flatulência. 2. Desejo forte; ânsia, gana.
PPS Aproveitando que o Aurélio está a mão, temos duas acepções para  Escatologia:
Escatologia¹: Tratado acerca dos excrementos
Escatologia²: 1.Doutrina sobre a consumação do tempo e da história 2. Tratado sobre os fins últimos do homem.


Tenho um intestino
Dividido entre o grosso e o fino
Tenho um intestino, bem melhor se não tivera,
Este intestino,
Não consegue se conter ao ouvir teu flato
Pobre intestino,
Sempre escravo da gordura,

Quisera ver o Bush,
Quando em meu líquido oceano flatular,
Fazendo borbulhas de amor no seu sonar,
Passar as noites em claro, dentro da CIA
O Bush, vai enfeitar de satélites a ionosfera
Fazer piruetas de horror à luz da lua
Saciar esta loucura, dentro da CIA

Flatula intestino,
Que esta alma necessita de ilusão,
Sonha intestino, não te enchas de amargura
Este intestino,
Não consegue se conter, ao ouvir o teu flato
Pobre intestino, sempre escravo da gordura,

Uma noite, para unir-nos, até o fim,
Bomba a bomba, míssil a míssil
E morrer, para sempre ...dentro de ti

P.S. O Aurélio parece ter se antecipado a estética arenque. Ele registra flato como: 1. Flatulência. 2. Desejo forte; ânsia, gana.
PPS Aproveitando que o Aurélio está a mão, temos duas acepções para  Escatologia:
Escatologia¹: Tratado acerca dos excrementos
Escatologia²: 1.Doutrina sobre a consumação do tempo e da história 2. Tratado sobre os fins últimos do homem.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Empolgação - para ser lido ao som de Elis Regina

 ">                                                                            Empolgação

  
Quando a vi
Um soco
                              Na boca do estômago
Bem no âmago
Estava oco

Então subi
Escadas de motel barato
Mais indefeso
Que o gato na toca do rato
Fui gato, depois sapato

Quando a despi
Tremia mais que a barata
Embriagada de inseticida
Que copo de formicida
Nas mãos tontas do suicida

Então gozei
Mais aliviado
Que o torturado
Que na cela é jogado
E cai, meio desacordado

Acordei

Vazio
Indefeso
Embriagado
Torturado
Apaixonado



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

68, o ano que já acabou

Discurso pronunciado pelo Deputado Márcio Moreira Alves, às vésperas do 7 de setembro, que lhe custou o mandato e serviu de pretexto para o AI-5.

"Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."