Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Continuação do Capítulo 7


Em termos revolucionários, as gerações não se contam de 20 em 20 anos. O PC do B de 62 era um, o de 66, outro e, finalmente, o de 72 era muito diferente do de 10 anos atrás. Embora um pouco arbitrariamente, fizemos uma tabulação do tempo de militância dos componentes dos três destacamentos e da comissão militar, escolhendo intervalos de 5 anos.





Se considerarmos que a guerrilha era uma amostra do partido, podemos concluir que o PC do B era um partido jovem, em que o grosso dos militantes ingressou depois de 66. Isso explica sua composição social, em que os quadros oriundos da pequena burguesia (estudantes, bancários, profissionais liberais, etc.) eram amplamente majoritários. Uma ressalva se faz necessária: muitas vezes, militantes que vinham das camadas mais pobres da população, ou mesmo de origem operária, eram recrutados no movimento estudantil, bancário, etc. Os quadros mais antigos vieram do período da insurreição de 35. O núcleo que dirigiu o partido após a repressão a esse movimento, enquanto Prestes estava preso, acabou se reagrupando em torno de Amazonas para reorganizar o PC do B. É significativo que o período de 46 a 60, época de legalidade ou de semi-legalidade, em que Prestes retomou a direção política, quase não esteja representado.






  
Acima vemos a composição dos destacamentos e da CM por idade.

Seus militantes eram aguerridos, acostumados à clandestinidade e ao enfrentamento da repressão. Por outro lado, há um hiato muito grande de gerações (no sentido tradicional) já que os militantes com idade entre 40 a 60 anos estão praticamente ausentes. João Amazonas tinha 60 anos, quando começou a guerrilha, Grabois um pouco menos. Se considerarmos que um militante típico é recrutado com cerca de 20 anos, a geração com 40 anos seria aquela que começou a militar na década de cinqüenta. Essa extrapolação corresponde à composição do Partido na cidade, se levarmos em conta os depoimentos que obtivemos de militantes e de dirigentes.
Politicamente, esse hiato representa uma quebra na transmissão de experiência e uma distância muito grande entre a direção e a base. Esses fatores condicionam a elaboração da política do partido, que passa a recair exclusivamente sobre a direção do Comitê Central e, dentro do Comitê, sobre um pequeno grupo. Considerando que os métodos de direção anteriores à cisão não sofreram uma crítica aprofundada, e que o núcleo mais ligado a Amazonas estava, direta ou indiretamente, envolvido com a execução do trabalho no campo, podemos vislumbrar aqui um dos fatores que levariam às futuras divergências sobre a avaliação do Araguaia.
É interessante notar que já havia algumas discordâncias latentes. Pedro Pomar, que inicialmente havia participado do levantamento de locais e do assentamento de militantes no campo, acabou sendo excluído dessa tarefa. Em documentos e entrevistas posteriores de Arroyo e do próprio Amazonas, há críticas, mais ou menos veladas, à sua atuação. Ele teria proposto a área do Vale da Ribeira, completamente inviável na opinião de João Amazonas e seria responsável pelo fracasso na implantação do trabalho em uma área.
Em 76, na reunião que iria avaliar a guerrilha, Pomar criticou a subordinação do Partido e do Comitê Central à Comissão Militar. “A parte do CC nas cidades deveria dar o máximo de apoio ao trabalho desenvolvido pela direção na área prioritária. As comunicações entre as duas direções dependeriam, como dependeram, da iniciativa e da responsabilidade da Comissão Militar. Em suma, tudo se condicionou ao êxito da luta armada que se preparava no Araguaia. Do ponto de vista político, os motivos e a decisão para o desencadeamento da luta também ficariam sob a responsabilidade da Comissão Militar.” [1]
Quando fizermos uma avaliação política do Araguaia, retomaremos as questões de mérito dessas divergências.
 







[1] Araguaia o Partido e a Guerrilha, Pomar, Wladimir, p. 296.

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